Psicólogo Matheus Chiquetto

Como a terapia ajuda a equilibrar os diferentes “eus” que vivem dentro de você

Pessoa refletindo em conflito interno, representando a necessidade de realizar terapia para alcançar equilibrio.

Você já sentiu que partes de você querem coisas diferentes ao mesmo tempo? Como se houvesse vários pensamentos, emoções e desejos em conflito? Essa percepção é mais comum do que parece e, na verdade, diz muito sobre como nossa mente funciona. A terapia pode ajudar a compreender e integrar esses múltiplos aspectos internos, promovendo saúde mental e bem-estar.

O que significa ter diferentes “eus” internos?

Costumamos pensar em nós mesmos como um único “eu”, coeso e linear. No entanto, na Psicologia, existe um entendimento de que o “indivíduo” é composto por múltiplas partes. Assim como o corpo humano é formado por trilhões de células cooperando, nossa mente também é composta por diferentes elementos que envolvem pensamentos, emoções, crenças e comportamentos, nossos “eus internos”.

Na prática clínica, especialmente na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), é comum identificar esses aspectos internos como vozes conflitantes, impulsos contraditórios ou padrões emocionais divergentes. A terapia busca justamente promover a cooperação entre esses elementos.

Como saber se há um conflito entre meus diferentes aspectos internos?

Alguns dos desafios mais frequentes entre adultos em sofrimento emocional, como preocupação excessiva, crenças limitantes ou estratégias evitativas, envolvem esse desequilíbrio interno. Em muitos casos, esses aspectos da mente tomam uma proporção maior do que deveriam, ocupando tempo e energia de forma desadaptativa.

Isso não significa que sentir ansiedade ou preocupação seja algo ruim. Pelo contrário, esses estados têm uma função importante. O problema surge quando esses mecanismos operam de forma desregulada e em desacordo com o restante do funcionamento psicológico, algo que a terapia busca reorganizar.

De que forma a terapia atua para integrar essas partes?

A terapia, especialmente com base em TCC, pode ser vista como um processo de reequilíbrio interno. O objetivo é fortalecer a integração desses aspectos internos, tornando os diferentes “eus” mais cooperativos, alinhados aos valores pessoais e à realidade atual do paciente.

Intervenções com mindfulness e aceitação, comumente utilizadas em terapia, são recursos eficazes nesse processo. Elas favorecem a tomada de consciência dos pensamentos e sentimentos presentes, ajudando a pessoa a reconhecer seus padrões internos sem julgamento. Com isso, torna-se possível fazer escolhas mais conscientes e alinhadas com seus objetivos de vida.

Quando procurar terapia para lidar com esse tipo de conflito interno?

É comum que algumas tensões internas sejam vistas como parte natural da vida. Porém, quando essas tensões se tornam persistentes, como conflitos frequentes entre pensamentos e emoções, autocríticas constantes ou uma sensação de estar preso em ciclos repetitivos, isso pode ser um sinal de que é hora de buscar terapia.

Se você se sente dividido entre diferentes desejos, valores ou decisões e isso tem afetado sua energia, relacionamentos ou qualidade de vida, a terapia pode oferecer o suporte necessário para reorganizar essas partes internas. Sentimentos de estagnação, procrastinação crônica, dificuldade de tomar decisões ou desconexão com seus objetivos também são indicadores relevantes.

É importante lembrar que não é preciso esperar uma crise para iniciar o processo terapêutico. Muitas pessoas se beneficiam da terapia justamente por prevenir agravamentos emocionais e cultivar uma relação mais harmoniosa consigo mesmas. Buscar ajuda profissional é um sinal de coragem, e não de fraqueza, é um passo consciente em direção ao seu bem-estar.

Um passo em direção ao equilíbrio emocional

A terapia é uma ferramenta poderosa para promover integração interna e paz psicológica. Ela ajuda a reorganizar os diferentes aspectos do nosso mundo interno, favorecendo um funcionamento mais equilibrado e saudável.

Se você sente que vive conflitos internos frequentes ou que suas emoções têm te dominado, pode ser um bom momento para conversar com um psicólogo.


Referência:

Hayes, S. C., & Hofmann, S. G. (2021). Terapia cognitivo-comportamental baseada em processos: ciência e competências clínicas. Porto Alegre: Artmed.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *